terça-feira, 12 de agosto de 2014

Crônica: Um nome não pode atrapalhar boas saudades



                                           UM NOME NÃO PODE ATRAPALHAR BOAS SAUDADES

Não sei como era a denominação da primeira escola em que você estudou. Foram muitos nomes dados às Unidades Escolares ao longo do tempo.
Naquela época, o uniforme era uma saia vermelha toda pliçadinha e uma camisa branca com uma gravata vermelha para as meninas; os meninos usavam um calção azul com a camisa branca e a gravata azul. Para ambos a gravatinha recebia delicadas faixinhas: uma para indicar a primeira série; duas para a segunda; três para a terceira e finalmente quatro para a quarta série.
As histórias sobre a minha escola não estão nos livros, ficaram guardadas debaixo do quadro negro, depois verde e enfim, quadro branco. E nesse momento em que escrevo, as palavras se confundem com as lembranças e eis que as lembranças renascem.  A diretora Celina, as saudosas professoras Enila, Aparecida, Zélia e Santinha, Cleir e Izabete (minhas irmãs), as quadrilhas, danças indígenas, as sopas de legumes, o triguilho, as vacinas obrigatórias, as conquistas...
A minha escola me abrigou, abrigou meus três filhos, mas não abrigará meus netos. Eles com certeza virão. Contudo, antes deles, vieram duas grandes enchentes: uma em Janeiro de 1979, assustadora e inesperada. Éramos ainda Distrito de Linhares; outra, em Dezembro de 2013, essa mais assustadora ainda. Elas não encontraram alunos, mas condenaram esse antigo prédio, a minha escola. E agora, as histórias ali guardadas se misturarão com os entulhos e serão levadas para um aterro, um lixão bem distante de onde elas existiram: o jogo de beliscas, o pique-esconde, a horta que nunca ouviu falar em agrotóxicos e que não se importava em nos alimentar.
Foram muitos os dias que escrevi, em casa, para levar prontinho para a professora o famoso cabeçalho: “GRUPO ESCOLAR ALBERTO RUBIM”, uma aconchegante escola do bairro Santo Antônio em Rio Bananal, ao Norte do Espírito Santo.
A escola guardo-a com todo amor em meu coração. As lembranças entram pelo meu ser e acordam grandes e antigas lembranças. Mas, o que dizer do nome dela? Seu nome não me diz nada. Os livros nunca me disseram quem foi Alberto Rubim.
Hoje descobri por acaso que o nome dado à minha escola é o nome do “capitão de mar e guerra Francisco Alberto Rubim, indicado pelo tio, o intendente de polícia do governo Dom João, Paulo Fernandes Viana, (que) governava a Capitania do Espírito Santo com bofes desamigos. Rubim era um déspota e moralista, nascido em Portugal.”
Sei que todas as escolas necessitam ter um nome. Apesar do livro Insólita Fortuna de Luiz Guilherme Santos Neves ter me revelado quem foi Alberto Rubim, essas informações não são capazes de mudar o que sempre sentirei pela minha primeira escola.


                                     Autoria: BERNARDETE MARIA SOAVE LARGURA

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