Nessa sexta(20/11) é o Dia da Consciência Negra e a Escola Bananal realizou durante a semana atividades para conscientização. Aconteceram algumas apresentações e reflexão do texto abaixo.
Por
Roger Deff
A
comemoração do 20 de Novembro, Dia da Consciência Negra, aponta para a
necessidade de uma reflexão sobre a contribuição do negro na construção do
país, em seus diversos aspectos, tanto culturais quanto estruturais.
A data
foi escolhida pelo Movimento Negro Unificado (MNU) em 1978, por se tratar do
aniversário da morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, assassinado em
1698, após décadas de resistência, o que faz dele um dos maiores símbolos de
luta pela liberdade e igualdade de direitos da nossa história,
inexplicavelmente relegado ao segundo plano nos livros escolares. Ao mesmo
tempo, o 20 de novembro é uma espécie de contra-ponto ao 13 de maio, que marca
a abolição da escravatura pela princesa Isabel em 1888, uma vez que, para os
representantes dos movimentos negros, a data não é digna de celebração, devido
as condições em que os negros “libertos” foram deixados, com seqüelas sociais
que repercutem até os dias de hoje.
Trata-se
de um momento importante para a toda a sociedade, não apenas para a população
negra, que hoje compreende cerca de 40% do povo brasileiro o que faz do Brasil
o maior país negro do mundo fora do continente africano. O reconhecimento
(tardio) da contribuição do negro na construção da nossa história representa
uma grande avanço. É um passo tímido mas significativo em um país que se
notabilizou por ter sido a última nação ocidental a abolir oficialmente o
regime escravocrata.
A
comemoração nos traz ainda a oportunidade de confrontarmos de perto questões
que permanecem presentes em nossa sociedade como o preconceito racial, eterno
tabu, cuja discussão ainda é reduzida. O tema permanece ignorado já que temos
muita dificuldade em percebê-lo em suas formas “sutis” de manifestação.
Ainda
somos vítimas do mito da democracia racial, que nega qualquer preconceito ou
intolerância em um país miscigenado como o Brasil. Como efeito bizarro,
admitimos a existência do racismo (embora nem todos nós – há quem negue) mas
não identificamos a discriminação racial em suas inúmeras formas, boa parte
delas já arraigadas em nossa cultura. Preconceitos que se manifestam tanto na
imposição de um estereótipo midiático de beleza, quanto em piadas que se
proliferam “inocentemente” tendo a cor da pele como principal mote.
Há ainda
a disparidade social que separa brancos e negros, gerando um abismo de
oportunidades educacionais, empregatícias e, consequentemente, de
desenvolvimento social. Segundo dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) a
população negra ainda enfrenta um déficit educacional considerável em relação
aos seus pares brancos, com uma média de 1,7 anos a menos de tempo nas escolas,
lidando ainda com uma taxa de analfabetismo de 13,4% enquanto entre os brancos
o percentual é de 5,9%.
Sim, o 20
de novembro merece ser comemorado, mas nunca de forma acrítica. É um convite à
análise sobre o quanto avançamos em relação às condições de vida dos afro
descendentes, e também do quanto precisamos caminhar ainda.
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