UM
NOME NÃO PODE ATRAPALHAR BOAS SAUDADES
Não sei como era a denominação da primeira
escola em que você estudou. Foram muitos nomes dados às Unidades Escolares ao
longo do tempo.
Naquela época, o uniforme era uma saia
vermelha toda pliçadinha e uma camisa branca com uma gravata vermelha para as
meninas; os meninos usavam um calção azul com a camisa branca e a gravata azul.
Para ambos a gravatinha recebia delicadas faixinhas: uma para indicar a
primeira série; duas para a segunda; três para a terceira e finalmente quatro
para a quarta série.
As histórias sobre a minha escola não estão
nos livros, ficaram guardadas debaixo do quadro negro, depois verde e enfim,
quadro branco. E nesse momento em que escrevo, as palavras se confundem com as
lembranças e eis que as lembranças renascem.
A diretora Celina, as saudosas professoras Enila, Aparecida, Zélia e
Santinha, Cleir e Izabete (minhas irmãs), as quadrilhas, danças indígenas, as
sopas de legumes, o triguilho, as vacinas obrigatórias, as conquistas...
A minha escola me abrigou, abrigou meus três
filhos, mas não abrigará meus netos. Eles com certeza virão. Contudo, antes
deles, vieram duas grandes enchentes: uma em Janeiro de 1979, assustadora e
inesperada. Éramos ainda Distrito de Linhares; outra, em Dezembro de 2013, essa
mais assustadora ainda. Elas não encontraram alunos, mas condenaram esse antigo
prédio, a minha escola. E agora, as histórias ali guardadas se misturarão com
os entulhos e serão levadas para um aterro, um lixão bem distante de onde elas
existiram: o jogo de beliscas, o pique-esconde, a horta que nunca ouviu falar
em agrotóxicos e que não se importava em nos alimentar.
Foram muitos os dias que escrevi, em casa,
para levar prontinho para a professora o famoso cabeçalho: “GRUPO ESCOLAR
ALBERTO RUBIM”, uma aconchegante escola do bairro Santo Antônio em Rio Bananal,
ao Norte do Espírito Santo.
A escola guardo-a com todo amor em meu
coração. As lembranças entram pelo meu ser e acordam grandes e antigas lembranças.
Mas, o que dizer do nome dela? Seu nome não me diz nada. Os livros nunca me
disseram quem foi Alberto Rubim.
Hoje descobri por acaso que o nome dado à
minha escola é o nome do “capitão de mar e guerra Francisco Alberto Rubim,
indicado pelo tio, o intendente de polícia do governo Dom João, Paulo Fernandes
Viana, (que) governava a Capitania do Espírito Santo com bofes desamigos. Rubim
era um déspota e moralista, nascido em Portugal.”
Sei que todas as escolas necessitam ter um
nome. Apesar do livro Insólita Fortuna de Luiz Guilherme Santos Neves ter me
revelado quem foi Alberto Rubim, essas informações não são capazes de mudar o
que sempre sentirei pela minha primeira escola.
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